segunda-feira, 27 de março de 2017

Gosta de tempero forte, meu rei? Na Bahia tem.

A culinária regional brasileira é uma grande mistura de alimentos, ingredientes e tradições trazidas de outros países com os imigrantes, bem como da população indígena. Nestes mais de 500 anos de histórias trazemos na bagagem muita diversidade cultural que influenciou os pratos, preparações que são servidas até hoje. 

Vamos conhecer um pouco da culinária de cada região do nosso imenso e saboroso Brasil. Comecemos pela culinária baiana.

Picante, aromática e colorida (podemos dizer afrodisíaca), a culinária da Bahia encanta pessoas, turistas do país inteiro. Considerada uma das mais ricas do país, tem um aspecto de “fundo de quintal” no interior do estado. Mas é na capital, Salvador e cidades litorâneas que aparecem as preparações mais famosas. 

A culinária baiana tem sua origem no período da escravidão, quando os senhores juntavam restos da mesa ou do dia anterior para dar aos escravos. As mulheres relembravam sua experiência culinária da África, quando juntavam ingredientes na panela com óleo de palmeira dendê e leite de coco. Os portugueses, apreciadores de cozido e bacalhau, passaram a exigir esses alimentos em suas refeições. Surgiu daí o bacalhau com leite de coco e temperado com azeite de dendê. 

A religião influenciou fortemente. Muitas das preparações têm como ingredientes animais mortos em rituais religiosos como bode, carneiro, galinha e cabrito. Preparações eram oferecidas a santos: Oxalá apreciava comidas “brancas e leves”, como pipoca e abará. Outros preferiam “comidas fortes”, com pimenta, azeite e tempero, como vatapá, acarajé e caruru. 

Entre as preparações típicas estão:
  • Cacetinho (pão francês)
  • Tapioca de coco e queijo
  • Mingau de tapioca
  • Bolinho de estudante (bolinho de coco frito)
  • Casquinha de siri
  • Bobó de camarão
  • Moqueca de camarão
  • Pirão escaldado
  • Doce de banana
  • Licor de jenipapo
  • Suco de mangaba
  • Acarajé
  • Vatapá
  • Caldo de sururu
  • Cocada mole
  • Cocada branca
  • Suco de graviola com umbu

Diante de uma culinária tão rica em história, sabores e saberes não deixe de experimentar algum desses pratos.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Os males da obesidade

Uma coisa nós já sabemos: a obesidade é um GRANDE problema de saúde pública em todo o mundo. Mas o que não é claro para todos é que obesidade é uma doença (e não falta de força de vontade) e que aumenta o risco para o desenvolvimento de diversas outras doenças, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e câncer.

Um estudo publicado recentemente (2017) no British Medical Journal mostrou que a obesidade está associada à 11 diferentes tipos de câncer (adenocarcinoma esofágico, mieloma múltiplo e câncer de cardia gástrica, cólon, reto, sistema biliar, pâncreas, mama, endométrio, ovário e rim).

O aumento do IMC (índice de massa corporal) foi associado a um maior risco de desenvolver denocarcinoma esofágico; câncer de cólon e reto em homens; sistema do trato biliar e câncer de pâncreas; câncer do endométrio em mulheres pré-menopáusicas; câncer de rins e mieloma múltiplo.

O ganho de peso foi associado também com maiores riscos de câncer de mama pós-menopausa em mulheres que não fizeram terapia de reposição hormonal e a razão circunferência da cintura e quadril foi associada a maior risco de desenvolver câncer de endométrio. O risco de câncer de mama pós-menopausa entre as mulheres que nunca usaram terapia de reposição hormonal aumentou em 11% para cada 5 kg de ganho de peso na idade adulta, além do risco de câncer de endométrio aumentar em 21%.

Os autores ainda acrescentaram: “A obesidade está se tornando um dos maiores problemas da saúde pública. As evidências sobre a força dos riscos associados podem permitir uma seleção mais fina das pessoas com maior risco de câncer, que poderiam ser alvo de estratégias de prevenção personalizadas”.

Diversas estratégias devem ser utilizadas no combate à obesidade. Um acompanhamento multiprofissional pode trazer resultados satisfatórios. E não se esqueça: informação é de extrema importância quando falamos da nossa saúde.

Se tiver dúvidas sobre o tratamento e/ou prevenção, procure seu nutricionista.

Referência:
Kyrgiou M, Kalliala I, Markozannes G, Gunter MJ, Paraskevaidis E, Gabra H, et al. Adiposity and cancer at major anatomical sites: umbrella review of the literature. BMJ. 2017; 356:j477.

segunda-feira, 13 de março de 2017

A neurose da lactose


As prateleiras de supermercados e lojas estão lotadas de produtos restritos em lactose e essa tem sido uma prática cada vez mais comum.

A história de que a retirada da lactose da dieta pode ser um dos caminhos para redução do peso corporal não é sustentada por evidências científicas. Diversos profissionais da Nutrição prescrevem a exclusão da lactose com uma forma eficiente no emagrecimento. É necessário ter cuidado ao implementar práticas sem respaldo científico. Desta forma, a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) publicou no último mês um posicionamento sobre intolerância à lactose e consumo de leite e produtos lácteos. 

A SBAN ressalta a importância do leite e dos produtos derivados na alimentação humana. Lembrando o leite de vaca é fonte de carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais, além de imunoglobulinas, citocinas e enzimas. Vale ressaltar que as proteínas do leite são de alto valor biológico (ler post sobre “Arroz e Feijão: mais uma dupla de estrondoso sucesso”).

“Declaração de Posicionamento da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição sobre a Intolerância à Lactose e Consumo de Leite e Produtos Lácteos: 1. os indivíduos devem ser diagnosticados com intolerância à lactose e de acordo com a sintomatologia, o consumo de leite e produtos lácteos deve ser reduzido e não excluído, principalmente para adolescentes e adultos jovens; 2. não há evidência científica suficiente para que indivíduos saudáveis retirem a lactose da dieta. Este Posicionamento está baseado em análise crítica da literatura que registra: a) a alta densidade nutricional do leite e produtos lácteos; b) a alta recomendação de ingestão diária de cálcio para a aquisição e manutenção da massa óssea; c) a alta biodisponibilidade de cálcio a partir de leite e produtos lácteos; 4. os riscos à saúde a partir do consumo de suplementos de cálcio.” 

A prática e prescrição de procedimentos, não comprovados cientificamente, podem comprometer a sua saúde. Fique ligado em profissionais que não se guiam por “modismos”. Seu corpo pode sofrer sérias consequências. 

Para ler todo o conteúdo acesse a declaração da SBAN.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Arroz e Feijão: mais uma dupla de estrondoso sucesso


Você já reparou que anos atrás não podia faltar no nosso prato a combinação: ARROZ E FEIJÃO? Pois é, as coisas mudaram. Atualmente, quase todos os pratos servidos em restaurantes (e em casa) não levam o delicioso feijão. 

Já temos conhecimento que esses dois alimentos se complementam e tornam nossa refeição de maior qualidade quando ingeridos juntos. Mas por quê? Calma, vou explicar! 

Vamos por partes: 1) Primeiro, o feijão é um alimento fonte de proteínas; essas proteínas são formadas por vários aminoácidos. 2) Temos no nosso corpo 21 aminoácidos que combinados de formas diferentes, compõem várias proteínas; 3) Temos alimentos considerados de alto valor biológico (AVB) e de baixo valor biológico (BVB); 4) AVB: são aqueles alimentos que contém os 21 aminoácidos em sua composição e BVB alimentos que não contém todos; 5) Os alimentos de AVB são os de origem animal, sendo os de origem vegetal de BVB.

Até aqui, ok?

O feijão e o arroz, como alimentos de origem vegetal, são considerados de BVB. No entanto, quando consumidos juntos de tornam uma combinação de AVB, pois o único aminoácido que falta no arroz (metionina) é encontrado no feijão (lisina) e o que falta no feijão é encontrado no arroz. BINGO! 

Combinação perfeita! Arroz e feijão no prato todo dia!

Bom, mas isso não é novidade. 

Um dado interessante é que essa dupla pode também reduzir os riscos de obesidade em crianças. Um estudo brasileiro recente (2016) mostrou que as crianças que comiam almoço tradicional com arroz e feijão como a principal refeição do dia tiveram o menor risco de obesidade. 

Acho que temos motivos suficientes para voltar com o feijãozinho todos dos dias para o nosso prato (ou pelo menos 5 vezes na semana).

Aproveite e... Bom arroz com feijão!

Prato colorido = prato saudável

Referência
Kupek E, Lobo AS, Leal DB, Bellisle F, de Assis MA. Dietary patterns associated with overweight and obesity among Brazilian schoolchildren: an approach based on the time-of-day of eating events. Br J Nutr. 2016; 116(11):1954-1965.